sobrevivi
meu aniversário, copa do mundo, final do ano (trabalho d+), confraternizações infinitas, descobertas intensas na terapia e muitos sambas no bar do ivan.
não sem antes derrubar uns pratinhos no caminho, como o da escrita semanal aqui, desculpem por isso.
penso que acontece.
agora volto vivendo uns dias de sossego e silêncio.
espero voltar a escrever aqui, mesmo em mini férias.
vou começar, compartilhando que esse ano participei de um evento incrível, “o texto & o tempo”, com escritores de newsletter, de lá surgiu um grupo no telegram e também a ideia maravilhosa de um amigo secreto - onde o presente é uma carta, que vou compartilhar aqui :)
joinville/campo alegre (comecei e terminei em cidades diferentes), 26 de dezembro de 2022
amiga secreta,
navegar por suas palavras tem sido um percurso bonito, até um pouco simbólico, conhecer alguém por algo que escreveu foi uma experiência singular, no sentido de entender o quanto nossas palavras nos representam, elas chegam primeiro aqui neste espaço virtual. dão corpo, textura, som e camadas que nem sempre acessamos com os que nos rodeiam.
li em vários dias diferentes seus textos, li muitos, os que os títulos chamaram mais atenção, fui percebendo sua intimidade com filmes, livros, crônicas pessoais, podcasts, buscando entre uma linha e outra algo que pudesse conectar duas desconhecidas.
o que escrevo agora, são memórias e histórias que me são muito valiosas e que surgiram principalmente das tuas edições: “cozinhar é afeto” e “algumas histórias sobre música”.
penso que quando você, em um trecho, fala sobre milton nascimento:
“sei pouca coisa sobre ele, além do fato de que tem uma voz que me acalma e me faz chorar e sonhar.”
com essa definição, você sabe MUITA coisa sobre ele.
para não ser repetitiva, escrevi um pouco sobre minha relação com ele aqui:
em outro momento, em “descobertas da madrugada” quando conta sobre a música Sentado À Beira do Caminho, parei tudo e ouvi, nunca tinha ouvido, chorei copiosamente. como um bebê em que sua única comunicação de desconforto é o choro. a música como poesia, cura, prazer, dor e alegria.
“meu olhar se perde na poeira desta estrada triste
onde a tristeza e a saudade de você ainda existe
esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança
de ao menos ver de perto seu olhar que eu trago na lembrança”
sabe, minha relação com a música é um pouco assim, visceral, potente e abissal.
é também, um marcador de tempo, de nossas versões, das pessoas que temos por perto.
esse ano, fiz um exercício belíssimo & dificílimo na mesma proporção, com um amigo que ama música como eu, combinamos de fazer uma playlist, com as 10 músicas que mais marcaram nossa vida e que fossem inéditas nas nossas conversas. alinhados os critérios, demoramos umas três semanas para concluir, eu comecei a playlist com 80 músicas e fui ouvindo, relembrando minha vida, as pessoas, os momentos, excluindo, incluindo.
depois de um tempo entendi, não teria fim, cada dia alguma faria mais sentido que outra, então decretei o fim em um dia qualquer, umas três semanas depois que comecei.
combinamos um dia para ouvirmos juntos e compartilharmos as histórias por trás de cada música.
música também é uma maneira de compartilhar nossa essência, trajetória.
*recomendo o exercício*
quando você descreveu que ouviu todos os álbuns de maria bethânia, sistematicamente e que ela é uma das suas artistas favoritas, logo lembrei de como comecei a ouvi-la e amar cozinhar. sim, isso mesmo, ao mesmo tempo.
*(também gosto muito do álbum O Vento Lá Fora, com Cleonice Berardinelli recitando Fernando Pessoa)*
2012 foi um dos anos mais complexos que vivi. no meio de tantas tristezas fui resgatada por algumas pessoas. amo o quanto é bonito, mesmo que no meio do caos, conhecer e construir novas relações. aquele sentimento que te faz querer estar com alguém, escolher dedicar tempo, conversar, trocar intimidades, dores, desejos.
naquele ano, meu amigo L. me pegou pela mão com todo amor que tinha e me tirou de uma nebulosa fase, me levava em todos os lugares que ia, acho que tinha esperança que minha vitalidade retornasse.
penso que para ouvir e amar maria bethânia, é preciso intensidade, profundidade, poesia. meu amigo L. é isso e muito mais. ele me enviou “debaixo d´água” e “quem me leva os meus fantasmas”, desde então, ela também tornou-se uma das minhas favoritas. ouvir bethânia é um bálsamo, um encontro, uma beleza sem igual.
além de tudo isso (que já é grandioso demais) L. ele me apresentou V.
e sim, só agora, prolixa como sou, consegui unir bethânia com cozinhar: meu amigo L. rs.
V. é chef de cozinha, lembro claramente da primeira vez que fui em sua casa, era domingo, fui com a M. (outro grande presente do L.) e quando chegamos, ela estava terminando seu almoço, eu e M. já havíamos almoçado, mas ela ofereceu e o cheiro estava delicioso, lembro exatamente dos pratos: um purê de batata baroa e uma massa com pesto e castanhas. era fabuloso, incrível, uma das melhores refeições que tinha experimentado até ali. com a aproximação, fui aprendendo mais com V., me interessei mais e estudo como hobby, sem pretensão alguma, mas muita paixão.
minhas memórias favoritas também tem sabores: bolinho de chuva da minha tia-avó, peixe frito aos sábados do meu tio-avô, bombons de coco na páscoa da minha avó, bolo de doce de leite e chocolate da minha mãe, tortei de abóbora da minha outra vó (e a lista continua…)
concordo com você, cozinhar é afeto.
memória. alegria. nostalgia.
além dessas memórias, quero deixar como presente, a indicação de um álbum e uma receita:
amei sua curadoria na playlist “as melhores de caetano”, notei que não tinha nenhuma de um dos álbuns que mais gosto dele, o “jóia” - além da beleza óbvia musical, adoro que aquele joia tem acento, que hoje não tem mais.
quantas outras coisas já fomos e agora não somos mais?
crumble - doquevocêtenhaemcasa
crumble é um nome fancy pra algo que é muito comum aqui no sul, receitas com uma “farofa doce”, crocante, com toque cítrico. aqui tem cuca, chineque, tortas. essa receita é maravilhosa e simples demais. digo que é doquevocêtenhaemcasa, justamente porque é super versátil, adoro usar frutas da estação, mas fica excelente com maçã, banana com canela, pêra (na foto usei pêssegos e cerejas).
crumble:
180 gramas de farinha de trigo
1 pitada de sal
120 gramas de açúcar
130 gramas de manteiga gelada
raspas de limão (ou laranja)
recheio:
frutas picadas
(infinitas possibilidades, mas minhas favoritas: pêssego e maçã)
suco de meio limão
modo de preparo:
picar as frutas, colocar em uma forma ou panela que possa ir ao forno, acrescentar meio limão.
em uma cumbuca (uma das minhas palavras favoritas da língua portuguesa) misturar com os dedos, o sal, o trigo, açúcar e a manteiga em cubinhos até transformar tudo em uma farofinha, acrescentar as raspas e colocar em cima das frutas.
40 minutos no forno, 180º/200º e prontíssimo! simples e delicioso :)
pode servir com sorvete, chantily, comer quente, morno, frio.
nesse momento, eu que segurei a informação, com o drama e intensidade costumeiro, vou compartilhar minha amiga secreta:
a lethycia dias, do uma mulher que escreve ( aqui)
lethycia,
música e cozinha se entrelaçam nas melhores memórias que construí com que eu amo - e que pretendo, pois sinto que são nesses espaços que demonstro meu afeto, desenvolvo meu sentir e ouvir.
e desejo que você continue construindo laços e caminhos com o mesmo afeto que seu pai te envia músicas quase todos os dias no whatsapp e você as transforma em playlists e como aprendeu a receita de canjica com as mulheres da sua família.
no fim, a gente só precisa descobrir a melhor maneira de sentir e compartilhar.
com afeto,
rafa
Estava com saudades da sua escrita bonita , poética e inteligente!
❤️
Obrigada por escrever
Lendo a essa hora da noite e desejando um crumble e um café 🤏